segunda-feira, 23 de março de 2009

Amor jacente

Eu não amei você
Nem esforço quis fazer
Sabia que seria assim
Foi perfeito desse jeito
A impostura chegou ao fim

Não peça-me para voltar
Olhe em volta, é seu lar
Sem mim tudo isso é seu
Terás, enfim, o que mereceu
Não deixe a solidão lhe roubar

Saibas que encontrei outrem feliz
Mas também não sei se quis
Não amo tanto quanto amei
Não sinto mais dentro de mim
As garotas que, jovem, desejei

E jamais vou amar mais
Se em mim o amor pereceu
Enfim, trouxe-me paz
Assim ele me concedeu
A paixão exposta em museu

Pela lembrança é que posso notar:
Só mesmo criança é capaz de amar
A pureza existe em quem não viveu
Em quem a tristeza e a maldade
O coração ainda não conheceu

quarta-feira, 18 de março de 2009

Minha gente

Nas vilas simples
São simples vilões
São injustiçados
Esquecidos
Pobres pidões

Medíocres? Jamais!
Só não têm dinheiro
Mas não faz falta não
O que é uma nota de papel
Para quem nota o tempo inteiro?

Nota a ganância
Do reprimido engravatado
Nota a ignorância
Da madame que, conivente,
Não nota a miséria ao lado

Limitam-se a notar
E, amiúde, lamentar
Sentem pena daqueles dementes
Quando, na verdade,
Quem precisa de piedade
É essa humilde gente carente

Carente de condição
Carente de dinheiro
Mas não faz falta não
O que é um saldo positivo
Para quem sauda o tempo inteiro?

Sauda o pai, a mãe, o filho
O cãozinho companheiro
Sauda o Sol
Sauda a chuva
Não tem tempo desordeiro

E é assim que são felizes
Sem nota e sem saldo
Notam a diferença
Saudam a complacência
Na espera de um respaldo

domingo, 15 de março de 2009

Brincando de crítica literária

Saber o porquê dos elogios que lhe são dados para melhorar ou reforçar qualidade de sua poesia é algo que você espera dos que lêem o seu blog. Pois bem, hoje resolvi brincar de crítica literária. Espero que não me ache pretensiosa ou despeitada. Sei que não tenho talento algum para essa arte da escrita, mas resolvi me aventurar neste feito, da mesma forma que fiz ao criar um blog de poesia. Completa amadora, recorri à lembrança das aulas de literatura, nas quais nos era exigido interpretar e analisar autores renomados. Pois bem o autor renomado nesta brincadeira é você (espero sinceramente que o seja algum dia) e a obra a ser analisada será o “mente [in]fluente”. Creio que será mais interessante, pois minha análise será remetida ao próprio autor analisado, podendo este inclusive discordar completamente, ou mesmo retrucar algum engano. Pois bem, peço licença para expor a minha análise.

O blog “mente [in]fluente” traz uma coletânea das poesias de Leandro Cesaroni. Nelas os temas privilegiados são os relacionamentos sob a ótica do homem da atualidade. As questões cercam os sentidos masculinos, mas que não se limitam a apenas a esse universo conseguindo perpassar o masculino ou feminino com questões dotadamente humanas.

Como os relacionamentos estão bastante presentes, os personagens femininos são os que mais parecem intrigar ao escritor. Nos vários temas abordados em sua poesia percebemos a presença de vários tipos femininos. Podemos dividi-los em dois grupos. Os que lhe causam encanto e os que lhe desencanta, porém todos prendem sua atenção. As encantadoras são a bela, e a sedutora, a instigante, a ousada. As sem encanto, que mais lhe intrigam, são as ciumentas, vaidosas, feias, dramáticas, confusas, incompreensíveis. Podemos até afirmar que não são tipos, mas faces femininas que os homens comumente costumam notar e dar relevo. Fora a este modelo esta a figura omitida, a que é citada, mas não lhe é dotada personalidade. Será a namorada? Outra é a do poema “loucura sem cura”. Não se sabe ao certo se é devagar, louca, preguiçosa. Esta lhe parece completamente desinteressante, mas é a que mais lhe causa incômodo.

A assistir, às vezes com perplexidade, esses tipos femininos, lá esta o homem.. Este ora vilão, ora amante; ora ilusor, ora apaixonado; ora seduzido, ora sedutor; ora arrependido, ora desprendido. Enfim, dotado de virtudes e fraquezas. Humano. Estes são frequentemente retratados como boêmio, infiel, arrependido, apaixonado, malicioso, debochado e desapegado a convenções.

Outras questões estão presentes nos seus versos como a poesia, solidão, relacionamento, distinção, conivência, e os sentimentos humanos.

Seu estilo de escrita consegue combinar com bastante criatividade as rimas e a capacidade de exprimir sentimentos, tendo como resultado uma beleza e sonoridade singular.

Os sentimentos que exprime relacionam-se com as questões presentes nas relações das pessoas na atual sociedade. A busca por prazeres, acertos, superação, harmonia nos relacionamentos, compreensão ou mesmo expressão de situações que comumente nos vemos envolvidos. São de grande qualidade e exprimem o seu futuro promissor.

Talvez o que lhe falte seja uma maior proximidade das vozes literárias femininas para ampliar seus tipos. Isso porque sua visão da mulher é bastante próxima aos autores do século XIX, que limitava suas personagens a personalidades dicotômicas: serenas ou histéricas, santas ou promíscuas, mães x amantes. A leitura de autoras tais como, Cora Coralina, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Lia Luft, Martha Medeiros, Maitena (cartunista argentina) etc., o ajudaria a ampliar a caracterização de suas figuras femininas. Mas não para tomar seu partido, pois o que lhe agregar uma qualidade distinta é a preferência pela voz masculina em seus erros e acertos.


TEXTO DE: ZEUGMA
Contato: zewgma@yahoo.com.br

quarta-feira, 11 de março de 2009

A hermética

- Por que choras?
- Quem me amava, hoje me adora
- E por que choras?
- Gostaria de ser amada, oras

Apesar de não amá-lo
Queria ela ser amada
Não sentia-se mulher
Se não fosse desejada

- Talvez ainda haja amor
- Sinto que sim, mas não para mim
- Talvez seja amor-próprio
- Talvez seja o meu fim

- Não fale assim, és tão bela
- Beleza. Ilusória miragem
- O que achas que lhe faltou ?
- Sorte. E um pouco de coragem

- Ainda há tempo para audácias
- Não passa de falácia mal dita
- Estou aqui para acalmá-la
- Estas me deixando mais aflita

- Perdão. Só queria que entendesse
- Antes, procure me interpretar
- Pensei que houvesse a entendido
- Você não seria capaz de me amar

(...)

- E se eu disser que a amo?
- Pouco vou me importar
- Pois saibas que a desprezo
E desabou a chorar

terça-feira, 3 de março de 2009

Justa solidão

Em caso de dúvida, fingia
Em casa, era alguém que não existia
Ali mentia para sua suposta paixão
Alimentava uma corriqueira ilusão

De manhã, assumia o papel de vilão
Na manha, pedia carinho e perdão
Conduzia qualquer mulher ao pecado
Com dúzias de embustes mal contados

Namorava cada dia uma nova enganada
Não morava na consciência que lhe fora dada
Enquanto isso sua mulher contabilizava
Em quantos bares diziam que ele andava

Se ele visse o quão amável ela era
Se elevasse o sentimento à atmosfera
Só correria a vida apaixonado
Socorreria seu coração dilacerado

Mas cara de amor só não adianta
Máscara de galante em fronte de anta
Concorrência, então, passou a disputar
Com ocorrência de peleja e despejo do lar

Atualmente vive sozinho, sem ninguém
A tua mente passou até a funcionar bem
Confusão, aprendeu, enfim, a evitar
Com fusão de ternura e cabeça no lugar