sexta-feira, 16 de outubro de 2015

PAÍS EM ASCENSÃO

Por que o alarde
Agora?
Se há uma crise 
Que arde, calada
Há séculos
E que pode ser
Apagada
Na próxima meia hora
Basta que algo
Se realize
Onde mora
A compaixão
De cada um:
No coração
Basta que um trago
A espalhe pra fora
E faça
Da alta do dólar
Um mero detalhe
Onde o que custa
Mais caro
É a desunião

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

TUDO O MAIS

nem tudo o que significa
é de fato o que interessa
nem tudo o que vem e fica
é, no fim, o que nos resta
nesse imenso desperdício
que é viver abrindo mão
(por falta de tempo
sacrifício ou atenção)

se até agora ainda não veio
há muito tempo pra querer
se mal chegou e quer partir
abrace forte e não permita

o pior não é perder de ver
e sim perder de vista

terça-feira, 6 de outubro de 2015

ENCONTRO

De tanto acharmos
que era possível
nós nos achamos
por dentro dos planos
de um futuro incrível
entre lençóis
girassois
e margaridas

Nos permitimos
e em uma semana
nós nos casamos
com a bênção do destino
sob o sol da Toscana

Lá moramos
desde então
com nossos filhos
e desenganos
de toda a razão
consumida
até nosso encontro
por baixo dos panos
por detrás da vida

terça-feira, 22 de setembro de 2015

À DERIVA

amor refugiado
partiu
sem saber onde ia dar
seu destino era a fronteira
entre o passado e um lugar
pra viver o resto de seus dias

amor despedaçado
se partiu
em alto-mar
tentando alcançar a fronteira
de um coração a navegar
pra além donde ele podia

SONETO DA DISTÂNCIA

Se outrora o tempo foi nosso inimigo
E fez da realidade mera lembrança
Agora ele é quem guia a esperança
De um dia ter você aqui comigo

Ao lembrar de tudo isto, penso - e digo:
Não façamos cara feia a esta criança
Que encanta e enlouquece a ânsia
De entregarmo-nos, finalmente, ao perigo

Se ela é a grande culpada da saudade
É a mesma que acredita no amor
De duas bocas mordidas de vontade

Depositemos então nossa confiança
A quem parece jogar a nosso favor
Ainda que de longe: a distância

quarta-feira, 10 de junho de 2015

QUEM SOU EU

Quem sou eu
depois de tanto tempo
trancado pro lado de dentro?

Não sei:
quem sou eu
nem o que se passa
com o que restou
dos planos
carcomidos pelas traças

Quem me diz?
Quem sou eu
E quem serei
depois deste lamento
(golpe de pano no pó
onde teus dedos
noutros momentos
lembraram de nós
S2
e então esqueceram-me
ainda pretos)