terça-feira, 25 de novembro de 2008

Ardorosa morena

Na batida seca das mãos ressecadas
Os tambores da tribo anunciavam a visão
Era ela, morena, danada
Que entre os desnudos dançava a canção

Aiê, aiô - rebolava provocante
Mapinguari atacô - fascinava o pescador
Aiê, aiô - desaparecia saltitante
Moça bonita não pegô - e ressurgia com uma flor

Brilhando óleo de castanha
Com colar de Sucupira
Preparava uma façanha
Para contrariar uma mentira

Em movimentos instigantes
Aproximava-se do pescador
Surpreendia os Xavantes
Oferecendo o seu amor

Na batida acelerada
Aproveitou pr'a se entregar
Sabia que estava errada
Mas que do erro queria provar

Sob olhares rebaixantes
O pescador um beijo levou
Não durou nem mais um instante
A moça bonita o fogo queimou

Para tentar salvá-la já era tarde
A injustiça estava dada por feita
Porém, para não bancar o covarde
O homem rendeu-se àquela seita

Antes de saltar na fogueira
Veio à cabeça a primeira visão
O fogo da moça faceira
Era o mesmo ali então

Sem medo e sem receio
Foi tomado pelo calor
A lembrança que agora lhe veio
Foi do beijo e do seu sabor

Os estalos dos corpos queimando
Eram pros índios o desejo alcançado
Pois graças ao egoísmo sub-humano
Mais um amor havia sido incendiado