quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Desesperança

Que movimentos acanhados!
Mãos enroladas na camiseta
Rosto encardido e ressecado
Pediu-me uma gorjeta

Falava com a língua de fora
Em voz mole e um pouco ávida
Disse que seu pai havia ido embora
Só tinha os irmãos e a mãe grávida

O pretume dos olhos morria opaco
Sem o brilho do olhar de criança
Seus braços, finos e fracos
Como quem rendeu-se à desesperança

Procurei saber mais sobre sua vida
Se ele estudava; onde morava
Disse que sua escola era a avenida
E, sua casa, um barraco de clava

Deixei-lhe um trocado e uma dica:
"Saia da rua, procure uma escola
Se estudar esse dinheiro triplica"
Mas parece que ele não me deu bola

Até hoje, ao ver um barraco
Nada impede que o coração amoleça
Meus olhos logo ficam opacos
E o pobre garoto me volta à cabeça