Ei, você
Que hoje me lê
Lê mas não me vê
Lê sem nem saber
Quem eu posso ser
Se sou homem
Se sou mulher
Alguém importante
Ou um qualquer
Sou pobre branco
Ou preto chique
Japonês manco
Ou então cacique
Você vai me ler
Porque não vai ver
Meus trejeitos
Se é tique nervoso
Ou nasci com defeito
Na escuridão
Não há preconceito
Escrevo belezas
E por trás dos versos
Ganho respeito
O que chateia
E tira a paciência
É volta e meia
Falarem de aparência
É bom que não me veja
Prefiro ser palavras
Elas não têm essa mania
E até as menos elegantes
Como "cafuné"
Têm lugar na poesia
Elas prezam o conteúdo
Como assim deveria ser
Seja vesgo ou orelhudo
Pode ter algo a dizer
Eu sou isso o que se lê
Não sou olho
Nem cabelo
Sou porquê